Falar de psicoterapia infantil e do adolescente ainda traz muitas controvérsias
no âmbito teórico e prático, muitos autores questionam se a psicoterapia é da criança
(adolescente) ou com a criança (adolescente), se é possível realizar um trabalho
efetivo com o paciente à medida que não há envolvimento e comprometimento da família.
A clínica com crianças e adolescentes está repleta de armadilhas. Precisamos tomar
muito cuidado para não sermos transformados em pedagogos, conselheiros dos desejos
dos pais, que muitas vezes pedem para que resolvamos situações, angústias que são
papéis delas próprios ou ainda ditadores dos desejos das crianças. E por outro lado,
proporcionarmos um espaço de escuta e acolhimento dos pais, para que o tratamento
da criança seja possível.
A criança e o adolescente estão em processo de desenvolvimento em todos os sentidos
e o aparelho psíquico também está em constituição, onde as fronteiras e os lugares
estão se constituindo. Os pais aparecem como figuras fronteiriças entre a realidade
e o fantasma e ao, incluí-los, facilita-se um encontro, possibilitam-se mudanças
que operam em ambas as direções.
Além das relações diretas, ou seja, das relações bipessoais entre sujeitos e objetos,
estão presentes segundo Di Loreto (2004) as imagens de cada um, refletidas pelos
outro, o que o autor chamou de as “Vias Reflexas”. O filho vai formando a imagem
e funções “paternas” ou “maternas” a partir das imagens de quem é o pai para a mãe
e vice versa. As vias reflexas evidenciam excepcional influência psicológica exercida
indiretamente pelo “outro”. O “outro” que cada um tem na cabeça, portanto está presente
em todas as redes de relações triangulares, como são as relações familiares.
O papel dos pais na psicoterapia dos filhos torna-se um ponto fundamental ao pensarmos
no tratamento de crianças e adolescentes, pois ao perceber as dificuldades do filho
e das relações familiares, os pais podem circular no seu próprio psiquismo questões
que mesmo estando em psicoterapia demoraria muito tempo a serem focalizadas.
O tratamento é da criança e do adolescente e é com eles que fundamentalmente trabalhamos,
mas devido ao peso do interjogo que ocupa os pais na vida dos filhos nessa fase,
interferindo diretamente na formação do sintoma ou na estruturação das psicopatologias,
torna-se imprescindível que seja trabalhado com um ou ambos os pais para que se
modifique algo também no inconsciente deles ou na relação familiar. “Ao incluí-los
na sessão, pensa-se em produzir um efeito analítico que permita a continuação da
análise da criança” (ROSENBERG, 2002).
Referências
O. D. LORETO, “Origem e modo de construção da mente (psicopatogênese): a psicopatogênese
que pode estar contida nas relações familiares”. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2004,
p. 178
A. M. ROSENBERG, “O Lugar dos Pais na Psicanálise de Crianças”. São Paulo, Editora
Escuta, 2002, p. 55
D. W. WINNICOTT, “Tudo começa em casa”. São Paulo, Martins Fontes, 1996.
Paola Andrade Maia - Psicóloga - UNESP, Mestranda em Educação – UNISO e Coordenadora do Depto. Científico
da Associação Criança
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