Cuidando de quem cuida

O que proponho abordar aqui é a necessidade de cuidados com aqueles que exercem esta tarefa de cuidar e de promover o bem-estar físico, psicológico e social de outro ser humano, com a finalidade de evitar a sobrecarga de quem a exerça ou se torne um fardo insuportável, ou ainda, acarrete aos cuidadores sofrimentos comparáveis aos daqueles a quem cuidam.

Atualmente, tem-se falado muito sobre a Síndrome de Burnout a qual é definida pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo. Os profissionais mais atingidos são os que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda, como: enfermeiros, psicólogos, médicos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, educadores. É caracterizada pela ausência de motivação ou desinteresse, mal-estar interno ou insatisfação ocupacional que parece prejudicar, em maior ou menor grau, a atuação profissional.

As situações estressantes podem originar de diversas fontes: da população atendida, muitas vezes carente de recursos emocionais e financeiros, das relações com membros da equipe de trabalho a que pertençam, do contexto social em que atuam e de ambientes saturados de sofrimentos físico e psicológico.

Para tanto, é necessário a criação e a manutenção de um espaço continente, onde todos se sintam predispostos às trocas mútuas sobre as vivências angustiantes de seu dia-a-dia profissional, bem como a refletir sobre maneiras de atenuá-las. Um ambiente acolhedor que proporcione a tolerância às frustrações; o suporte das ansiedades, das impotências e dos conflitos decorrentes de rivalidades profissionais; a convivência com as diferenças de atuação profissional; e, principalmente, o trabalho em equipe.

Além disso, observa-se a importância de reforçar aos profissionais a possibilidade de tomar suas próprias decisões, respeitar suas diferenças e compreender seu processo, para que possam se desenvolver com suas características e forças inerentes à sua realidade.

Podemos encontrar na Mitologia Grega um auxílio para a compreensão desta relação entre cuidador e cuidado. Asclépio, filho do deus grego Apolo, estava no ventre materno quando sua mãe foi atingida por flechas e morreu. Asclépio sentiu dores terríveis e estava quase morto quando foi salvo pelo seu pai que, rapidamente, o enviou a Centauro Quirão, um grande cirurgião médico. Este cuidou de Asclépio e o introduziu na arte de cuidar e curar os doentes. Essas dores sofridas deixaram marcas tão profundas que o estimularam a identificar-se com os sofredores, tornando-o um famoso curador.

Este Mito nos faz refletir sobre a necessidade de tolerância, por parte do profissional, de suas limitações e de sua condição humana, aceitando que não é onipotente e onisciente, atributos divinos que trazem embutido o fracasso e o sofrimento, pois a realidade da dor, em suas mais diferentes facetas, sempre o defrontará com sua impotência. A tarefa de cuidar do outro é uma das práticas humanas que colocam o profissional diante de seus mais íntimos conflitos, pois em poucas atividades o indivíduo encontra-se tão incisivamente sujeito às pressões, de várias ordens, e ao desgaste profissional.

Assim, a criação de espaços abertos para reflexão sobre as práticas de trabalho deve ser uma preocupação constante das Instituições de Saúde e de Educação, pois se observa que esses encontros grupais por parte da equipe geram uma melhora do atendimento ao usuário, assim como a prevenção e promoção da saúde mental da própria equipe.


MORETTO, C. C. CUIDANDO DE QUEM CUIDA. - Jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba/SP, 28 set. 2007



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