As Relações Grupais na vida de todos nós

Este trabalho procura trazer algumas contribuições sobre o grupo na vida do ser humano.

A primeira delas consiste no fato de que o ser humano é um ser gregário, somente existe em função de suas relações interpessoais. Os comportamentos humanos se dão dentro de ambientes sociais, são determinados e os transformam. Natural, portanto, que as transformações humanas ocorram – e mesmo sejam facilitadas – dentro do contexto grupal.

Os seres humanos vivem em grupos, mesmo sem se darem conta disso. As pessoas se reúnem para trabalhar, se distrair, se defender, roubar, crer, mudar o mundo, serem instruídos ou tratados. Estes espaços em comum e as relações que daí derivam fomentam sentimentos diversos. Podemos ser invadidos por emoções que nos agitam, desejos, medos, angústias que nos excitam ou nos paralisam. Às vezes, uma emoção comum se apossa de todos os integrantes, dando uma sensação de unidade grupal.

Encontramos na etimologia da palavra “grupo” o significado de “laço” ou “nó”, trazendo a consideração de duas linhas de força que encontramos na vida dos grupos: o laço demonstrando a união e o círculo representando o espaço fechado. Desta forma, uma das características de um grupo é a possibilidade de oferecer um espaço que acolhe seus participantes e também poder provocar sentimentos de aprisionamento e frustração.

Partindo deste conceito vemos que a idéia de grupo é ampla e incorpora muitos tipos de grupos. Como exemplo, poderíamos citar os grupos familiares, os grupos de amigos, os políticos, religiosos, grupos de trabalho, os terapêuticos, etc.

A segunda consideração sobre a importância dos grupos se refere à saúde pública. Em um país como o Brasil, com tão escassos recursos econômicos e poucos profissionais, com uma quantidade enorme de pessoas desassistidas, gerando demanda por serviços de saúde, é necessário organizar e oficializar novas estratégias para sua prevenção e intervenção curativa. Os programas de saúde devem atuar no nível preventivo de atenção, tendo em vista o conceito de prevenção primária se referir à ação que busca evitar a incidência de doenças. As ações neste campo devem ter como alvo grupos e não indivíduos isolados. Como exemplo, cito o Programa de Saúde da Família, o qual tem por objetivo a promoção da saúde atingindo a comunidade.

A terceira razão dos trabalhos grupais é de que o grupo é um instrumento de investigação e tratamento psíquico. Alguns transtornos emocionais são produzidos dentro de uma rede de relações humanas. Desta forma, a psicoterapia de grupo é utilizada, então, como forma de tratamento. Uma das maiores vantagens do grupo é a possibilidade de se aprender a pensar, agir e fantasiar com liberdade. Conforme descreve o renomado psicanalista argentino, José Bleger, num grupo pode-se alcançar o mais completo grau de elaboração e integração do ser humano, com um rendimento que não se pode alcançar no trabalho individual.


O atendimento de grupos em uma Instituição de Saúde Mental Infantil

No início do mês de junho, foi realizado em Santos/SP o XVII Congresso Latino-americano de Psicanálise Grupal, evento prestigiado por reconhecidos profissionais de diversos estados brasileiros, contando também com a presença de autores argentinos e uruguaios que trabalham e desenvolvem pesquisas nas áreas de saúde e educação relacionadas a grupos.

A Associação Pró-Reintegração Social da Criança, por mim representada, participou deste evento apresentando o trabalho realizado na Instituição.

Esta entidade é uma Sociedade Civil Filantrópica que trata crianças e adolescentes e seus familiares portadores de Transtornos Emocionais na cidade de Sorocaba.

O objetivo do atendimento é proporcionar aos usuários, através da atuação terapêutica psicossocial em grupos, condições para o desenvolvimento físico, emocional e social. O trabalho grupal possibilita a solidariedade, a construção da individualidade, o resgate da cidadania e o respeito nas relações interpessoais, valores tão ausentes na sociedade atual.

Enfim, nesta Instituição, as crianças e os adolescentes têm a possibilidade de aprender a respeitar a si mesmos, os colegas de grupo e os profissionais, estabelecendo um modelo de convivência saudável, aprendido e sedimentado, o qual se estende a outros ambientes, especialmente família e escola.


MORETTO, C. C. As Relações Grupais na vida de todos nós. - Jornal Cruzeiro do Sul, Sorocaba, 06 jul. 2007



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